*Eu estou em um lugar escuro, tão escuro que não consigo distinguir se é um lugar fechado ou aberto. Não consigo ver nada num raio de mais de dois metros, e também não ouço nada, nem sinto cheiro de nada. Eu estou sem roupas, mas nem pareço me importar com isso. Não vejo sinais dos meus ferimentos, nem sinto dor alguma.*
Az: Será que... eu estou morto...?
???: E se estiver?
*A voz parecia ter vindo do nada. Olhei para todos os lados, mas não vi ninguém. É então que uma forma parece sair das sombras, vindo em minha direção caminhando calmamente.*
Az: Não pode ser...!
*A figura imponente de Ganis me encara. Eu rapidamente fico em guarda, mas ele apenas sorri.*
Ganis: Agressivo como sempre... como o macaco que é. Não tem vergonha de sua falta de polidez, humano?
Az: Então eu realmente morri... Onde estamos?
*Em vez de responder, Ganis estendeu sua mão em minha direção e senti uma rajada de força me atingir como um vendaval, me jogando longe. Caio de costas no chão, cuspindo sangue e sentindo várias costelas quebradas*
Az: Dor... então eu estou vivo...? Preciso pegar o Ganis...
*Antes que possa raciocinar direito, sinto um pé em meu peito e mais costelas se partem. Olho e vejo Yzadpkian, em sua forma humana, pisando em mim.*
Yzadpkian: E quem foi que disse que não existe dor após a morte?
*Ele muda para sua forma monstruosa e me acerta vários chutes. Em seguida, me chuta para longe. Alguém me segura pela cabeça e me levanta.*
Metraton: Então este é o grande Azrael?
Azrael: Metraton, você...?
Metraton: Toma vergonha, moleque!
*Metraton, ainda me segurando pela cabeça, começa a golpear minhas costas. Sinto como se ele fosse partir minha coluna ao meio, mas depois de um ataque mais forte ele me larga no chão. Com dificuldade eu tento me levantar, mas sinto várias mãos segurando meus braços e pernas e eles me erguem. Todos são a mesma pessoa.*
Az: Argh... Khan?!
Khan: Há quanto tempo, Eduardo Azrael... desde que você me matou. Vim mostrar minha gratidão.
*Os Khans me seguram de braços abertos, e uma corrente elétrica começa a passar pelo meu corpo. Sinto como se meus músculos fossem estourar, mas até isso logo passa. Os Khans ainda estão me segurando, vejo Ganis, Yzadpkian e Metraton na minha frente. E do meio deles surge Sandalphon.*
Az: Você... isto então é obra sua...?
Sandalphon: Não, Eduardo Azrael, tudo isto é obra sua. A consequência de seus atos.
*Sandalphon enfia a mão no meu estômago. Eu grito de dor.*
Metraton: Vamos, reaja! Onde está toda a garra que demonstrou quando enfrentou todos nós?
Yzadpkian: Onde está todo o poder?
Khan: Onde está sua coragem?
Ganis: Onde está sua determinação?
*Cuspindo sangue, eu ainda tento reunir meu Ki, mas anda acontece. Sandalphon tira a mão da minha barriga e eu sangro mais.*
Az: Não posso... não posso com todos vocês...
?????: Ridículo.
*Vejo mais alguém se aproximando, e o reconheço na hora.*
Az: Hi...Hirokazu-sensei...! Então o senhor também...
Hirokazu: Seu covarde. Por acaso foi isso que eu ensinei?
*Ele se aproxima de mim e toca no meu ombro, sorrindo. Eu tabém sorrio, apenas para sentir o pé dele bem no meio das minhas pernas. Perco copleatmente o fôlego*
Hirokazu: Eu confiei tanto a você... ensinei tanto a você, mesmo sendo um Gaijin(estrangeiro)... e é assim que você paga? Agindo como um coitado fracote, se deixando morrer dessa forma? Tanto que você lutou e quanto sangue derramou apenas para se tornar isto? Por acaso tem idéia do quanto desperdiçou a própria vida?
Az: Eu... nunca me importei de morrer.... se era pra salvar...
Metraton: Mentira. Você sempre temeu por sua vida, mais do que por qualquer coisa. E mesmo assim, mantinha a pose de herói. Por outro lado, nem sequer teve coragem de contar toda a verdade para seus amigos.
Az: Que... que verdade...?
*Khan me acerta um soco no meio do rosto e eu caio rolando no chão e fico ali deitado, sem conseguir levantar a cabeça.*
Khan: Não se faça de desentendido! Admita suas vergonhas!
Hirokazu: Nunca falou para seus amigosm, nem para sua amada Lety-chan todas as mentiras que existem por trás da sua vida.
Az: Eu... nunca escondi... nada deles...
Metraton: Mas também nunca fez questão de mostrar, não é? Sempre fingiu enterrar seu próprio passado.
Ganis: Mas seu passado sempre o perseguiu. Mesmo o passado de suas vidas passadas.
*Deitado no chão, com dificuldade, eu tento olhar, e vejo todos eles. Metraton. Sandalphon. Ganis. Yzadpkian. Khan. Hirokazu-sensei. Eles estão à minha volta, como se fossem me linchar; eu quero me levantar, eu quero lutar, gritar, fugir dali, mas é como se meus pés e pernas estivessem amarrados e minha boca amordaçada. Só consigo enxergar e escutar. Vejo mais pessoas chegando. Sao Kumi e seus filhos Jugon, Yon e Gon. Deadline. Marbas. Um homem com roupas de feiticeiro e mãos sem carne. Uma mulher com uniforme militar. Outra com roupa de médica. Um sujeito coberto de ataduras pelo corpo. Um outro com uma espada gigante, maior que o próprio corpo. Um vampiro. Um lobisomem. Vários alienígenas. O homem com o rosto mais odioso que já vi na vida. Um homem com cara de lagarto. Uma mulher de cabelos verdes e peitos maiores que a própria cabeça. Meu próprio irmão. Meu pai. Yakumo. Natsuki. Rina. Kandori. Mou-chan. Son-chan. Meus outros mestres. Muitas e muitas pessoas, cada vez chegando mais, se aglomerando todos à minha volta. Todos eram pessoas do meu passado, pessoas que em algum momento eu tive de enfrentar... e então vi meus amigos. Todos estavam longe, como se eu não pudesse alcançá-los. Era estranho que, em ambos os grupos, eu via algumas pessoas nos dois grupos. Mas em nenhum eu via a pessoa que eu mais queria ver.*
Az: Lety-chan...?
*Algumas das mulheres me seguraram e começaram a me espancar. Kandori me levantou, mas logo me jogou no chão com toda a força e me aplicou uma chave, me imobilizando da maneira mais dolorosa possível. É então que uma menininha, aparentemente com dez anos e vestida com quimono se aproxima de mim e me encara com ar autoritário. Em seguida, ela me acerta um tapa certeiro que estala no rosto e ecoa por todo lado.*
????: Seu porco chauvinista, Don Juan mentiroso de uma figa! Pra quantas mulheres você disse que amava?!
Az: Só... só pra uma...
????: E pra quantas você prometeu casamento?
Az: So... somente para a... Lety-chan...
????: E quantas disseram que te amavam?
Az: Eu...
*A despeito da dor e da raiva do espancamento, eu começo a suar frio. Ela então me segura pelo pescoço e me olha de perto, nos olhos.*
????: E se eu me entregasse pra você agora...?
*Ela então muda, seu corpo fica adulto e eu começo a suar muito. Mas mantenho a calma*
Az: Não... eu jurei... eu prometi que... eu dei minha palavra... e meu coração... à Lety-chan...!
Várias vozes: E se nós matássemos ela?
*Olho na direção das vozes e vejo todas as mulheres que apareceram antes, segurando a Lety-chan, amarrada em um poste, e a garota de quimon segurando uma espada com a lâmina próxima ao pescoço dela. Noto então que estou cercado pelos homens, quem está me segurando agora são Khan e seus clones e à minha frente está Metraton*
Metraton: E então, o que você faria?
*Eu não respondo. Meu Ki explode, arremessando todos pra longe; começo a golpeá-los sem parar, tentando chegar à Lety-chan, mas a multidão tenta me impedir. mesmo avançando no meio da massa de gente, não pareço chegar a lugar algum.*
Az: LETY-CHAN!!!
*Eu acordo de repente, deitado numa cama de pedra, em um quarto que mais parecia uma cela, coberto com cheiro de mofo. Um homem idoso que estava sentado ao lado coloca a mão no meu ombro.*
Velho: Acalme-se, meu rapaz... você teve muita febre e está desacordado aqui desde que chegou.
Az: O... onde eu estou...?
Velho: Aqui é uma cela, garoto... mas isto não é importante agora, você precisa descansar e se recuperar. Você quase morreu.
*Com calma e sentindo o corpo inteiro doer, eu me deito de novo na cama. O homem coloca uma compressa de água fria na minha testa. Eu então percebo que estou com vários curativos, e meus pulsos estão enfaixados.*
Velho: Sei que talvez seja um pouco cedo pra falar disto, mas a curiosidade é uma consequência da minha idade avançada... mas você é jovem demais para querer se matar desta forma. Ser escravo não é um motivo tão grande para isto.
Az: Não é isso... eu não tentei me matar... mas que história é essa de escravo...?
Velho: Você foi vendido, meu rapaz. É agora um escravo do Príncipe. E logo seremos mandados ao palácio dele.
Az(pensando): Tsc... que coisa mais surreal... depois de tudo, acabar desta forma. E ainda por cima, teve esse pesadelo que só me fez sentir ainda mais saudade da Lety-chan... Espera aí! Será que... esse sonho não foi pra me avisar de algo? De que alguém do meu passado está querendo se vingar...? Pensando bem, foi isso que Deadline falou... mas quem será?
*Eu olho para uma janela gradeada e posso ver a Lua Cheia. E nela, como que por mágica, eu posso ver a imagem de Lety-chan, dançando, e não sei se é real ou só um só minha mente brincando comigo de novo.*
Az(Pensando): Lety-chan... onde você está?
*O velho começo a mexer numa panela que estava numa fogueira.*
Velho: Estou preparando a comida. Você precisa se alimentar, ou vai acabar morrendo de inanição. Aliás, estou surpreso que ainda esteja vivo, no seu estado, rapaz.
Az: Meu nome é Eduardo, senhor. Mas pode me chamar só de Az.
Velho: Ah sim, perdoe-me a falta de educação. Eu me chamo Emil, meu caro Az. Enquanto comemos, porque não me conta sua história?
*Comecei então a narrar tudo que me acontecera desde que saí do Japão ao velho Emil, enquanto ele servia um pouco de uma sopa malcheirosa numa tigela de barro.*
Continuem...