Música:
https://www.youtube.com/watch?v=LScgjuP9hjsUM REI ALHEIO A EMOÇÕES E SENTIMENTOSHá uma montanha coberta de sangue e cadáveres, abaixo de um céu nublado.
As nuvens pesadas se movimentam anunciando o final de mais uma batalha.
Para ela, esse tipo de situação se tornou normal.
Os restos de um campo de batalha, onde ela triunfou novamente.
Como sempre, ela voltará ao castelo, o povo irá celebrar a vitória do rei, e os preparativos para a próxima batalha serão feitos.
Esse é o cotidiano do rei.
Essa foi mais uma das 12 grandes batalhas que ela enfrentou.
Ela aceita calmamente a vitória, não mantendo memórias ou emoções a respeito dela.
Ela estava ciente que, a partir do momento em que puxasse a espada, ela deixaria de ser algo humano.
Depois de se tornar um senhor feudal, como seu pai Uther, a jovem garota Altria se tornou um rei com muitos cavaleiros.
Foi assim que ela viu sua vida se transformar para sempre.
Não.
Sua vida não se transformou. Ela acabou.
A garota com traços adolescentes e femininos deixou de existir, dando lugar a um poderoso deus da guerra, o aclamado rei dos cavaleiros.
Ela agiu como um homem, pois, conforme a política de herança ao trono, o herdeiro do rei que se tornará o sucessor da coroa e da espada deve ser do sexo masculino.
Somente seu pai e o mago Merlin sabiam da verdade.
A verdade que a garota escondeu por todo o restante da sua vida, atrás de sua armadura.
O tempo passa, e os 10 anos do reinado da jova garota seguem.
Ninguém conversava com ela.
Nem no trono.
Nem no palácio.
Nem no campo de batalha.
Até mesmo os brados e conversas alegres e intensas dos cavaleiros ao redor da távola redonda cessavam completamente no momento em que o rei adentrava.
Ela era idolatrada e admirada. Isso é tudo.
Muitos cavaleiros olhavam para Altria com olhos de desapontamento, e não aprovavam jurar suas espadas a uma criança.
Porém, lembrando sempre que essa criança conseguiu puxar a espada que eles não conseguiram, eles suportavam essa desonra, acreditando que seria temporária.
Nada muda o fato dela ser uma criança.
Mesmo com a ajuda de Merlin, eventualmente, Altria irá falhar.
Quando isso acontecer, a espada será tirada de suas mãos, e a seleção do rei acontecerá novamente.
Esse era o pensamento de boa parte dos cavaleiros.
Mas essa falha, que eles esperavam ansiosamente, não ocorreu.
A jovem garota era um rei impecável.
Ela trouxe paz às facções que guerreavam entre si, pondo um fim aos conflitos internos, e lutou contra os invasores, neutralizando as ameaças externas.
Essas conquistas não poderiam ser atribuídas à espada. Esta somente protege ao rei.
É o poder do rei que protege o país.
E, nesse aspecto, ela superou todos os outros cavaleiros.
Porém, a proteção da espada divina só serve contra espadas inimigas.
Não serve para cativar o coração das pessoas ou obrigá-las a aceitar a pessoa que usa a espada.
Ela trabalhou duro para ser um rei ideal.
Tornando-se um governante exemplar, contra as expectativas de boa parte de seus seguidores, conquistou que seus cavaleiros ignorassem a insatisfação com o jovem rei e a seguissem sem hesitar.
Mostrar-se um rei ideal é a condição para ter as espadas de seus companheiros ao seu lado.
Não há espaço para se preocupar com a humanidade da jovem mulher Altria.
A jovem mulher que estava determinada a se tornar o rei, puxou a espada, selando o seu destino, parou de envelhecer e venceu heroicamente 12 grandes batalhas.
Quanto mais digno o novo rei Arthur se mostrava, mais as pessoas se afastavam daquele ser não-humano.
Quanto mais o tempo passava, mais isolada ela ficava.
Mas ela nunca deixou de ser um ótimo líder, derrotando os inimigos com eficiência e minimizando as vítimas em batalhas.
Todo conflito tem vítimas, não importa o que aconteça.
Ela estava ciente de que sacrifícios eram necessários para proporcionar uma boa chance de vitória.
Ela abandonou uma vila, de modo a poder salvar dez outras.
Direcionou todos os recursos e suprimentos daquela vila para o seu exército, de modo a preparar seus homens adequadamente para vencer a batalha.
Essa foi a melhor solução que ela pôde propor.
Mas os cavaleiros não pensavam dessa forma.
Somente os invasores deveriam morrer. A vitória deve ser alcançada sem permitir vítimas. Não há necessidade de sacrificar o próprio território, para poder proteger o próprio território.
As ações do rei eram desnecessárias aos olhos deles.
Mas esse pensamento era irrelevante no momento da batalha, quando os próprios cavaleiros ignoravam os vilarejos menores, enquanto tentavam proteger os maiores.
Eles acreditavam que era natural a destruição pelas mãos dos invasores, mas era inadmissível a destruição dos vilarejos menores pelas mãos das próprias pessoas que deveriam protegê-los.
O jovem rei sabia muito bem disso.
Mas as decisões do rei não podem ser influenciadas por sentimentos pessoais. E por que não dizer...sentimentos humanos?
Ela matou suas emoções de modo a poder tomar a melhor decisão possível, e os cavaleiros que a seguiam acatavam, ignorando opiniões pessoais.
E, após muitos sacrifícios e vitórias, o país estabilizou-se.
Então, os cavaleiros se revoltaram contra o rei.
...
- O rei sacrificou uma de suas aldeias.
- Fez isso apenas para nos dar uma chance de vitória...que rei mais cruel.
- Mesmo sem sacrificar a aldeia, a vitoria para nossa tropa era inegável.
- O rei Arthur não conhece as emoções humanas.
- Como pode um rei que não entende os sentimentos de seu povo, governá-lo?
...
O rei Arthur não conhece as emoções humanas.
Um dos cavaleiros disse isso e deixou o castelo.
Eles não esperavam que o rei fosse um ser humano normal, mas ainda assim se revoltaram ante o fato do rei não possuir absolutamente nenhuma emoção humana.
A era do caos continuava.
Os cavaleiros, até então insatisfeitos com o rei, tornara-se mais ainda após a partida do seu companheiro.
Colocaram a responsabilidade de todos os problemas sobre os ombros da jovem garota e pressionaram-na.
Nessa situação, a ruína era iminente.
A morte era certa, a não ser que ela solucionasse todos os problemas.
A mesmo resolvendo-os, o desfecho seria o mesmo.
Entretanto, a mentalidade do rei não foi alterada, por mais que ela fosse abandonada, temida ou traída.
Pois suas emoções haviam sido deixadas para trás há muito tempo, de modo a dar lugar à espada que ela puxou da pedra de seleção.
Não houve falta de aviso.
O mago deixou bem claro. Ela deixaria de ser humana, no momento em que puxasse a espada.
Não apenas isso. Seria privada de toda a sua humanidade e estaria destinada a morrer de uma forma miserável.
Não havia como ela não estar com medo naquele instante.
Mas ainda assim, ela aceitou esse destino.
A jovem garota não desejava outra coisa que não fosse poder proteger a todos.
Mas, para alcançar isso, ela teve que descartar a emoção de querer proteger a todos.
Pois, com emoções humanas, um rei não consegue proteger seu país.
Segurar a espada era como segurar esse destino cruel, sem poder voltar atrás. A espada, naquele momento, era a materialização do futuro trágico apresentado à jovem Altria, se ela não voltasse atrás em sua decisão.
Ela aceitou esse destino, aceitando a espada e segurando-a com determinação, enquanto a retirava da pedra.
Ela jurou viver como o rei.
Dessa forma, seu coração não mudou com os abandonos, temores e traições direcionados a ela.
Ela jogou fora seu coração, como preço a ser pago para poder proteger algo importante para ela.
Ela fez a escolha dela.
Escolheu lutar, não importando se uma ruína de solidão fosse o que a esperaria no final.
E o resultado foi este.
A batalha de Camlann.
Um cavaleiro usurpou o trono enquanto o rei Arthur estava em uma campanha, o país se dividiu em dois, e uma guerra começou.
A lenda diz que a cavalaria foi completamente destruída.
O rei matou seus antigos irmãos de armas, e atacou as terras que ele outrora protegeu.
Os cavaleiros que permaneceram ao seu lado morreram, e seu corpo foi gravemente ferido.
Não havia mais ninguém com ela.
Mas, apesar dessa solidão, a única coisa em seu coração era o orgulho do rei.
Ela estava ciente desse fim.
Mas ela viveu sua vida como o rei, por acreditar que algo surgiria a partir de seus esforços.
Assim, a jovem Altria não tem arrependimentos.
Se é para haver um, é o fato do país estar na ruína.
Após a batalha, a garota ergue os olhos.
É possível ver o castelo, do topo dessa montanha banhada em sangue.
Mas tudo o que há para ver são os restos da batalha, uma floresta densa, e um lago para o qual ela deve retornar.
Ela não conseguirá subir a montanha, pois a força escapa de seus membros.
Pela primeira vez, a garota solta a espada.
Esse é o destino trágico que aguarda a jovem Altria.
Ela trabalhou duro, fez o melhor que pôde, jogou fora o impensável - sua humanidade - para proteger o país.
E essa é a sua recompensa.
Decepção. Avareza. Traição. Incompreensão. Preconceito.
Ninguém conseguia ver que o rei na verdade amava o povo mais do que o país.
Tudo o que podiam ver era o rei impiedoso e desumano.
Ela nunca foi recompensada ou compreendida.
Na montanha vermelha coberta de corpos e espadas, a jovem garota, que sacrificou tudo em prol de algo, mas não foi capaz de obtê-lo, espera pela morte, que é a única coisa que lhe resta.
____________________________________________________________________________________
Enquanto ouvia a explicação de Yukko, Xysuke se recordava dessas passagens da vida anterior de Mokona, que viu uma vez em seus sonhos. Mokona estava tensa com todas aquelas revelações, e apertou forte a mão dele em um determinado momento, fazendo com que ele voltasse de seus devaneios, e voltasse a prestar atenção na reunião.
Yukko mencionou que o motivo dela ter vindo fora o despertar de 2 artefatos antigos que ela mantinha sob custódia em sua loja. Aquilo chamou a atenção de Xysuke.
- 2 artefatos antigos? Seriam itens que possuem algum vínculo com a flor e a Larg?Quando Mokona fez sua indagação a Yukko, Xysuke recebeu o olhar que a jovem feiticeira lançou ao casal, e ficou impressionado como ela demonstrava já saber de tudo o que está acontecendo. Não era à toa que aquela mulher tinha conseguido criar uma forma de vida que, agora, fazia companhia a Xysuke. Esse feito só poderia ter sido alcançado por alguém de conhecimento e poder ao nível do que é conhecido como feitiçaria, que está acima da mera magia.
Xysuke teve a certeza de que Yukko não era uma simples maga, mas uma feiticeira.
Magos são seres humanos capazes de controlar a magia para fazer truques pequenos e sem muita influência no balanço da natureza. Proezas misteriosas, mas atingíveis através de tempo e estudo, isso é chamado magia. E os que são capazes de fazer isso são chamados magos. Existem aos montes por aí, escondidos dos olhos das pessoas comuns, segundo o regulamento imposto por uma suposta "Associação de Magia", localizada em algum lugar do mundo.
Já feiticeiros estão em um nível superior, e são poucos. Possuem um conhecimento que os torna capazes de feitos realmente surpreendentes, capazes de até colocar em risco o equilíbrio das energias do mundo. Coisas que ninguém mais é capaz de fazer, coisas além do alcance da ciência moderna. Aqueles capazes de fazer tais "milagres", intangíveis independente de tempo e esforço empregados no processo, são conhecidos como feiticeiros. Xysuke ouviu uma vez um boato de que existem muito poucos feiticeiros no mundo hoje em dia, menos que dez.
E Mokona e Larg eram provas vivas de que Xysuke estava, naquele momento, a poucos metros de uma.
Xysuke ouvia atentamente o relato de Yuuko, em resposta à pergunta de Mokona.
- Citação :
- Em uma dessas maravilhosas viagens, eles caíram em um mundo onde havia uma Rainha da Britannia, chamada Arthuria.
Xysuke arregalou os olhos. Aquela mulher viu Arturia em pessoa. Isso só seria possível se...
1) Yukko tivesse uns 1500 anos, aproximadamente, já que a lenda do rei Arthur situa-se em meados do século VI
2) Essas viagens que ela e o mago Clow fizeram desafiassem a própria linha do tempo, o que faria sentido, já que Yukko é capaz de feitos conhecidos como feitiçaria, para fazer coisas que nem o nosso avanço tecnológico permitiu ainda.
- Citação :
- Grande guerreira, porém maculada para toda a
eternidade por ter aceitado usar um artefato poderosíssimo. Este
artefato havia tirado toda a sua humanidade, para que ela pudesse
aguentar as guerras que viriam, e proteger sua terra por toda a
eternidade. Havia um único porém para o uso do artefato.
- Um artefato poderosíssimo, que, como preço a ser pago, tirou-lhe a humanidade...Xysuke imediatamente entendeu do que se tratava.
- Caliburn....a espada da pedra de seleção. - Citação :
- Havia um único porém para o uso do artefato.
Ela deveria amar incondicionalmente seu reino e todos os que vivessem
nele. Porém um homem apareceu, e seu coração mudou totalmente, fadando a
Rainha ao fracasso. Ela nunca deixou de amá-lo, mas também nunca deixou
de se culpar por ter arruinado a todos de seu reino por esse amor.
Xysuke ficou surpreso e, de certa forma, se sentiu feliz por Arturia. Contrariando o que ele viu em seu sonho, o jovem rei teve algum contato com os sentimentos humanos, embora isso tenha sido sua ruína. No momento em que um homem passou a ocupar o primeiro lugar em seu coração, tirando o lugar do país e seu povo, Arturia não tinha mais a mesma força para protegê-lo. Então, o amor é capaz de causar a queda de um país. A espada Caliburn provavelmente sabia disso. Que um rei que cede às emoções humanas não pode proteger seu país. Por isso, o preço a ser pago pela espada era abandonar sua humanidade, de modo a poder ser um bom rei. Mas nem a espada conseguiu controlar o coração da jovem mulher.
Xysuke se lembrou da voz de Arturia, naquele momento no terraço, se dirigindo a ele com lágrimas nos olhos.
- Citação :
- - Sinto sua falta... Gwenh...
Então, esse homem era o tal do Gwenh. Com a ajuda de Yuuko, as peças estavam finalmente se encaixando.
- Citação :
- Ela vagou por muito tempo no silêncio, e foi no momento em que estávamos criando vocês - ela olha de Mokona para Larg - que sua essência apareceu diante de nós, nos dando algo em troca de uma nova tentativa para virar humana novamente.
- Algo em troca....os artefatos que estão na loja? - Citação :
- Cada uma de vocês terá que me dar algo em troca para se transformar, quando a hora for a certa. - Ela se levanta -
No momento o que eu tenho a dizer é isso. Mokona, você tem a assência
de uma Rainha Guerreira de outra dimensão. Ela está sentindo a sua
vontade de tornar-se humana, o que acredito seja a mesma vontade dela.
Xysuke - Yuuko olha para ele - Assim que o artefato
estiver junto a Mokona, acredito que ambos entenderão ainda mais. Vamos
aguardar que ele dê o primeiro passo.
Xysuke olhou para Mokona. Então existe mesmo essa possibilidade. De Mokona se tornar humana totalmente. E Mokona realmente possui a essência de Arturia dentro dela, o que explicaria o fato da Soul Calibur ter escolhido-a. Não apenas isso, mas Arturia talvez quisesse também recuperar sua humanidade...isso talvez significasse que Arturia...
- ......quer refazer a seleção do rei, e viver como uma garota normal.Xysuke sentia Mokona segurar seu braço, e olhava para ela. Sua namorada parecia preocupada e insegura sobre o futuro. Através dos olhos de Mokona, Xysuke conseguiu ver que essa aflição era a mesma de Arturia. Em algum canto daquele corpinho ao lado do de Xysuke, havia a essência de uma mulher pedindo por ajuda, por liberdade....por redenção. Xysuke teve a certeza de que a expressão no rosto de Arturia, nesse momento, devia ser exatamente a mesma que no rosto de Mokona.
Querendo ajudar de alguma forma, Xysuke passou o braço em volta dos ombros de Mokona e a puxou mais para perto dele, segurando uma das mãos dela com sua outra mão. Xysuke segurava Mokona com firmeza, querendo que ela sentisse o calor do corpo dele ali, ao redor dela, confortando-a. Com esse gesto, Xysuke tentava transmitir a Mokona a seguinte mensagem:
"Não se preocupe, flor. Eu estou aqui contigo, te apoiando e te protegendo, não importa o que aconteça."